quinta-feira, 16 de abril de 2020

O índio sob a ótica da república (1910 - 1967)


Gestão do Serviço de Proteção ao Índio (SPI)
quanto mais inocentes e supostamente anódino [suave] os dados usados pelo pesquisador, maior a margem de impensado reproduzida” - Souza Lima. Não existe neutralidade que se preserve neutra. Tudo que se diz neutro, abre margem para zilhões de interpretações.
O SPI representa a ação do estado da 1ª república diante da questão indígena. O órgão tratou de um largo número de povos diferenciados, como se fosse um único povo. assim houve uma homogeneidade de concepções quanto ao exercício de suas tecnologias.
O SPI como parte do Ministério da Agricultura
Com a criação do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio em 1906 há a preocupação com a situação do índio. O SPI surge como um órgão de importante grandeza para o país.
O Ministério da agricultura surge como característica da 1ª república em sua forma burocrática, sua importância se enquadra no processo de transição do trabalho escravo para o livre nas atividades centrais da economia brasileira, ou seja, atividades agrícolas.
Uma organização privada, a Sociedade Nacional de Agriculta (SNA) que abrangia um grupo de agricultores a margem da cafeicultura, é visto como força de influência política para a criação do ministério. A própria república do Café com Leite olhava com maior preocupação para o café, deixando todas outras culturas (açúcar, tabaco, borracha, e outras) em segundo plano.
O Convênio de Taubaté (1906) foi um fator que atrasou a organização do ministério. E a criação do Ministério veio com uma barganha política depois de benefícios dados aos cafeicultores.
Institucionalização e pressupostos do SPI
Rondon foi nomeado para gerir o SPI. O órgão surgiu sob a ideia de “criar um aparelho de poder sobre os índios”. Suas bases ideológicas estavam enraizadas no positivismo. Os índios eram considerados não civilizados, e o SPI surgiu como uma prática de controle, sobretudo com indígenas que estavam em terras de disputa com latifundiários.
Inclusive, o dia de organização do SPI reforça esse projeto positivista, 07-09-1910. O dia da independência do Brasil, ou seja, um símbolo de que o índio entra na nação brasileira. Mas, já em 1911 o SPI passa por reformas estruturais: Corte de verba, intenção de fazer do índio um pequeno-produtor. O índio deveria, sem escolha, entrar no modo produtivo do Brasil. Mas, sendo comparado ao pequeno e pobre produtor, sem grande capital, visto que o índio sempre produziu para sua subsistência.
Pedro de Toledo (Ministro da Agricultura) propõe um regime jurídico especial para os índios que só se materializou mesmo no Código Civil de 1928. Era posta sobre o índio a ideia de um grupo a ser civilizado; sem capacidade teria de viver sob a tutela do Estado.
O SPI solicitava aos Estados da União que julgassem quais terras pertenceriam às reservas indígenas. – Isto gerava uma possibilidade de barganha e conchavos políticos. Assim, terras indígenas não respeitavam as tradições dos povos originários, e sim de pessoas com interesses de lucro sobre as terras indígenas.
Presença dos Militares
A proximidade dos órgãos militares (Rondon era um militar da linha do Marechal Hermes da Fonseca) com os conceitos positivistas dos dirigentes do SPI que compreendiam que a presença militar era benéfica para os grupos indígenas. Os militares mostrariam a sua coragem no desprendimento para defender os limites da pátria.
Os índios hostis seriam combatidos defensivamente, os militares deveriam mostrar aos índios as relações de amizade, ou melhor dizendo, disciplinar o índio. “Conquistar terras sem destruir os ocupantes indígenas”, diziam os militares; e desta forma obter mão de obra para os grandes proprietários de terra.
SPI após 1932
Com a revolução de 1932, houve uma transferência do SPI do Ministério da Agricultura para o ministério da Guerra. O discurso era a favor de uma maior influência da educação positivista, nacionalista e militar no lugar da educação catequética religiosa (Nesta época, as reservas indígenas possuíam catequistas estrangeiros). Criando no índio um sentimento nacional deixando sua nação de origem e virando um “brasileiro”.
Esses positivistas viam os índios sob uma visão de que eles estavam em um estágio mais primitivo da evolução, pensava-se no índio como um ser inferior. Interessante que estes seres inferiores seriam os guardas das fronteiras, conforme dizia o SPI. Assim, a presença militar em controlar os índios era fundamental ao Estado Brasileiro.
Ditadura Getulista
 Expansão sobre o centro-oeste e o parque do Xingu
Com a “Marcha para o Oeste” – frase getulista, vem a intensificação da demarcação do território de limites internacionais. Em 1939 é criado o Conselho de Proteção aos Índios, com fins de estudar a proteção dos índios e seus costumes e línguas. Surge, também, a Fundação Brasil Central para efetivar a colonização (povoamento) do Centro-oeste brasileiro, este órgão trabalharia junto ao SPI.
Surge a ideia da criação do parque do Xingu para que os índios tivessem sua fauna e flora, numa espécie de estufa do povo indígena. Este espaço sempre ficaria preservado pelas forças armadas (aeronáutica e exército). Os índios seriam “ratos de laboratório”.
Período Democrático e Golpe de 1964
Em 1945 a ideia de preservação e aculturação foram medidas protecionistas, em que civis que geralmente eram pessoas preparadas pelo ensino superior podiam participar. O Brasil já viva com grandes centros universitários, considerava-se que essa elite intelectual poderia participar e contribuir na inserção do índio a nação brasileira
Trabalhou-se também a preocupação, protecionista, em observar se os índios já tinham condições de lidar com a economia e o mercado nacional.
Em 1967, sob o regime militar, suspeito de irregularidades, encerra-se o trabalho do SPI e inicia-se a FUNAI.