domingo, 12 de julho de 2015

História é a opção pelas lágrimas

Estudar história não é uma questão de curiosidade sobre o passado, mas é uma decisão de chorar sobre o passado, solidarizar-se com os que sofreram. Mas por que com os que sofreram? Porque a história é a coletânia de mortes, de perdas, de desgaste. Tudo que se estuda da história é o que sobrou, restos mortais, objetos de mortos, edificações abandonadas.
História não é divertimento, mas quem opta por estudar a história é porque encontrou na vida o sentido de que tudo pelo que se busca não tem valor eterno. Tudo passa, tudo morre, tudo se vai ao ostracismo. Quem opta por história acredita que o presente e o futuro não são nada mais que a expectativa de um dia não mais ser; expectativa de um dia ser história. Ninguém que se entrega a história acredita no futuro eterno, mas acredita no passado eterno.
História é amor ao passado, é o desejo de levar aos vivos a realidade de que um dia seremos todos passado, por isso, não vamos nos iludir com o presente, expectar pelo futuro, mas vamos nos trancafiar em nossos mausoléus ornamentar-nos para o passado. O historiador é descrente em tudo que se chama fé, mas é crente em tudo que se chamou. Para o historiador o fato passado é sagrado, o mundo é um templo e que nós devemos a ele devoção em nossas cerimônias.
O historiador tem a reverência que outros religiosos não têm. A história é tratada como a religião do mais fundamentalista devoto. Obviamente, temos entre nós as nossas seitas, mas uma coisa é certa, somos todos adoradores do que se deixou, em nossas diferentes formas de rezar, apreciar, e louvar. Uns adoram as longas durações, outros as micro histórias.
A história nos leva ao começo, mas não ao começo de tudo, e sim ao começo que queremos. A história não nos diz o que passou, nós dizemos dela o que se passou. A história não é imóvel, mas nós a movemos como queremos, como os religiosos movem seus deuses. A história valoriza quem faz a história, quem a escreve, quem a registra. A história não se curva perante deuses, reis ou conquistadores, a história se revela em quem se deixou registrar, uma jovem medieval que morreu entre os milhares na peste, uma tribo guerreira que não se curvou perante Mexico-Tenochtitlan, uma criança yorubá que correu mais rápido para não ser lançada aos porões dos tumbeiros. A história também é deles, mesmo que não estejam em manuais acadêmicos, pelas histórias de outros fracassos sabemos que houve outras vitórias. História não nos diz o que poderemos ser, mas diz o que seremos.