domingo, 3 de maio de 2015

Last Flight Out - resenha


Esse é o filme (de 1990) que conta a história de como a empresa estadunidense Pan Am retirou 500 civis vietnamitas após os Estados Unidos perderem a guerra do Vietnã.
Mas poderia dizer que é um filme feito por quem perdeu o jogo e ficou bravo.
Há o estereótipo clássico do comunismo como um grande medo e terror. Forma de visão muito disseminada durante a Guerra-Fria.
As falas apresentam  a apocalíptica vinda do fim do mundo com a vitória dos comunistas. Embora não tenhamos nenhum personagem comunista, mas há o medo de que quando eles chegarem à Saigon, muitos morrerão.
Os vietnamitas são retratados como pessoas néscias, pobres coitados emburrecidos, os mais inteligentes são os que têm afinidades com os estadunidenses. Até mesmo os políticos vietnamitas são aparentados a figura de seres primitivos. Os militares vietnamitas são descritos como corruptos.
Já os estadunidenses estabelecem uma relação de salvadores, eles são os que libertarão o povo do malvado comunista que vem para "comer criancinha" com a foice e o martelo.
Há uma clara hierarquização mental, podemos desenvolver uma escala em que na parte mais baixa estão os bárbaros vietcongues comunistas que quando chegarem acabarão com tudo - depois o povo vietnamita que são vistos como baratas tontas prestes a morrer - em seguida os militares e políticos vietnamitas que sabem do fim trágico de seu país mas se rendem a corrupção e rancor - os vietnamitas amigos, ou funcionários dos estadunidenses - e por fim, num local de status, os estadunidenses com seu intelecto filosofal, sua ação humanitária.
Noutras palavras, o filme é nitidamente mais um golpe midiático do cinema hollywoodiano. Os Estados Unidos sempre se serviram da força da 7ª arte para dar seu golpe vencedor. O mundo do senso comum vê os Estados Unidos como uma super potência militar, claro que são poderosos, mas lembrem que os maiores ícones da guerra dos Estados Unidos são Rambo, Braddock, Esquadrão classe A, James Bond (britânico), Indiana Jones, Homem de Ferro, Capitão América, além dos alienígenas com nacionalidade estadunidense: Superman e Transformers.
Assim como Brasil, Nigéria, México, Rússia, Papua Nova-Guiné, os Estados Unidos são pais um país que têm soldados e que luta (obvio que eles possuem dinheiro para investir, mas não esqueça que os caças da Embraer são exportados para o primeiro mundo).
Mas o cinema dá aos estadunidenses esse local de preeminência. Com o cinema eles ganharam todas as guerras que lutaram. Os exemplos clássicos são a 2ª Guerra e o Vietnã. Quem derrotou Hitler não foram os Estados Unidos, mas o exército comunista de Stalin. E o Vietnã, os Estados Unidos tanto perdeu, quanto que o Vietnã até hoje é um país de governo socialista (até o presente ano de 2015).
Mas com a força comercial do cinema hollywoodiano, eles conseguem passar ao mundo a imagem vencedora, ou pelo menos a imagem pacifista. Se eles não aniquilam o demônio, eles salvam as vítimas do mesmo.
O filme é uma massagem no ego de quem é americanizado-egocêntrico. Feito em 1990, com a derrota consolidada dos Soviéticos, após a Queda do Muro de Berlin, ainda quer reforçar a imagem tapada dos países que foram dominados pelo sistema de Marx.
1990 é um período em aberto, é uma época que os países socialistas e o mundo em geral não sabem como ficarão as coisas, o que será dos países da Cortina de Ferro na nova economia de mercado capitalista. Já o filme aborda um questionamento parecido, mas levantando a duvida sobre como será a vida dos vietnamitas com a vinda dos comunistas, um dos personagens quando é questionado sobre essa vinda, ele diz em tom imponente e filosófico: "não sei o que lhes espera quando eles chegarem, ninguém pode saber". Eu diria que todos alunos que estudaram saberiam dizer.
O que aconteceu quando os comunistas chegaram em Saigon foi a base das reformas comunistas em qualquer país: redistribuição de terras, estatização das grandes empresas privadas, eliminação da dívida externa, corte de relações com influências estrangeiras de nações imperialistas.
Assistam aos filme, vale a pena, é uma aula de história sobre a invenção do medo.