terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Chapeuzinho Vermelho


(Charles Perrault)

Era uma vez uma garota da aldeia, a mais bonita que jamais se viu: sua mãe era doida por ela e a senhora sua avó mais doida ainda. Esta boa mulher mandou-lhe fazer um capuchinho vermelho e tão bem ele lhe ficava, que por toda a parte lhe chamavam o Capuchinho Vermelho.

Um dia, depois de ter preparado e cozido um folar, disse-lhe a mãe:

– Vai lá ver como é que está a senhora tua avó, pois me disseram que estava doente. Leva-lhe este bolo e esta tigelinha de manteiga.

E logo o Capuchinho Vermelho se pôs a caminho até casa da senhora sua avó, que morava numa outra aldeia. Ao passar alegremente por uma floresta, encontrou o compadre lobo, que bastante vontade teve de a comer; mas não se atreveu, por causa de uns lenhadores que por ali andavam na mata. Perguntou-lhe onde ia ela. A pobre menina, que não sabia quão perigoso é dar ouvidos a um lobo, disse-lhe:

– Vou ver a minha avozinha e levar-lhe um bolo, mais uma tigelinha de manteiga que a minha mãe aqui lhe manda.

– E ela mora muito longe? – perguntou-lhe o lobo.

– Oh se mora! – disse o Capuchinho Vermelho. Mora lá por detrás do moinho que vedes lá longe, na primeira casa da aldeia.

– Pois bem! – disse o lobo. O lobo muito esperto lhe falou dos perigos de uma menina andar desacompanhada pela floresta, e aproveitando-se de sua ingenuidade, ele lhe recomendou o caminho mais longo como atalho, e inocentemente a garotinha seguiu o conselho.

O lobo desatou a correr com toda a força pelo caminho que era mais curto e a garota lá foi pelo mais comprido, entretendo-se a apanhar avelãs, a correr atrás das borboletas e a fazer raminhos com as flores que ia vendo.

Não tardou o lobo a chegar à casa da avozinha; bate à porta: toc, toc.

– Quem é? – Perguntou a avozinha.

– É a sua netinha, o Capuchinho Vermelho – disse o lobo, imitando-lhe a voz – que aqui lhe traz um bolo e uma tigelinha com manteiga que a minha mãe lhe manda.

A boa da avozinha, que estava na cama por se sentir um tanto doente, gritou-lhe:

– Puxa pela guitinha que alevantas a tranquinha.

O lobo puxou pela guitinha e a porta abriu-se. Atirou-se à pobre mulher e devorou-a num abrir e fechar de olhos, pois há mais de três dias que o lobo não comia. Em seguida, o lobo colocou todo seu sangue numa garrafa, fatiou sua carne num prato, comeu e bebeu satisfatoriamente, guardou as sobras na despensa, vestiu a camisola da idosa e esperou na cama a chegada da menina.

A seguir fechou a porta e foi deitar-se na cama da avozinha, à espera do Capuchinho Vermelho que, daí a pouco, batia à porta: toc, toc.

– Quem é? – disse o lobo.

Ao ouvir a voz grossa do lobo, o Capuchinho Vermelho assustou-se, mas julgando que a avozinha estava constipada, respondeu:

– É a sua netinha, o Capuchinho Vermelho, que aqui lhe traz um bolinho e uma tigelinha de manteiga, que a minha mãe lhe manda.

Gritou-lhe o lobo, fazendo a voz um pouco mais fina:

– Puxa pela guitinha que alevantas a tranquinha E coma algo, tem carne e vinho na despensa. - O Capuchinho Vermelho puxou a guitinha e a porta abriu-se.

A Menina comeu o que lhe foi oferecido, e enquanto se servia, o gato de sua vó a observava aos murmúrios: "Meretriz! Então, comes a carne e bebes o sangue de tua própria avó com gosto. Ata teu destino ao dela."

Após a garota se alimentar, o Lobo então escondendo-se dentro da cama por baixo do cobertor disse cheio de malícia:

- Põe o bolinho e a tigelinha com manteiga em cima da arca e venha para cama comigo.

O Capuchinho Vermelho trata de se meter na cama, onde muito espantada fica ao sentir o toque do pelo em seu corpo e disse:

- Como a senhora é peluda vovó. – exclamou Chapeuzinho

- É para te esquentar, minha neta. - respondeu o lobo.

- Que unhas grandes a senhora tem! - ela disse.

- São para me coçar, minha querida. - o lobo respondeu.

- Que ombros largos a senhora tem!

- São para carregá-la nas costas, minha jovem.

– Que grandes pernas que tem, avozinha!

– É para melhor correr, minha filha!

– Que grandes orelhas, que tem avozinha!

– É para melhor ouvir, minha filha!

– Que grandes olhos que tem, avozinha!

– É para melhor ver, minha filha!

- E que olhos grandes!

- São para te ver melhor.

- E que nariz grande!

- É para lhe cheirar melhor

- E que dentes grandes a senhora tem!

– É para te comer!

E dizendo estas palavras, o malvado do lobo atirou-se ao Capuchinho Vermelho e comeu-o.